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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sentença



Logo eu, que não sei guardar segredo, devo seguir silente os rumos indesejáveis da vida, como se fosse um túmulo. Não. Melhor. Um baú. Um baú de boas lembranças e surpresas do passado. Devo seguir sem pestanejar, gritar, esperniar.  Logo eu, que empunhei as armas, as garras, vesti a farda e briguei, sangrei, matei. Agora resta esta  paz, "pomba lesa" da paz. A paz de deixar o rio seguir seu curso. Mas já sabíamos; o destino do rio é o mar. Façamos um trato, um dique, uma barragem, estanquemos essas águas por um tempo, um não, dois tempos, três talvez. Ilusão. O rio segue seu curso. A vida toma seu lugar. E eu que sou cheia de excessos, que carrego turbilhão de dores e afins, devo seguir contida. Mas prometo não chorar. Cabeça erguida. Fiz o que não pude; fui eu mesma e pra isso não tem perdão. E minha punição é observar o curso das águas, de longe, bem longe, enquanto aqui dentro, o caminho é inverso, o mar devasta os meus rios.
Sandra Freitas

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