Logo eu, que não sei guardar segredo, devo seguir silente os
rumos indesejáveis da vida, como se fosse um túmulo. Não. Melhor. Um
baú. Um baú de boas lembranças e surpresas do passado. Devo seguir sem
pestanejar, gritar, esperniar. Logo eu, que empunhei as armas, as garras,
vesti a farda e briguei, sangrei, matei. Agora resta esta paz,
"pomba lesa" da paz. A paz de deixar o rio seguir seu curso. Mas já
sabíamos; o destino do rio é o mar. Façamos um trato, um dique, uma
barragem, estanquemos essas águas por um tempo, um não, dois tempos, três
talvez. Ilusão. O rio segue seu curso. A vida toma seu lugar. E eu
que sou cheia de excessos, que carrego turbilhão de dores e afins, devo seguir
contida. Mas prometo não chorar. Cabeça erguida. Fiz o que não pude; fui eu
mesma e pra isso não tem perdão. E minha punição é observar o curso das águas,
de longe, bem longe, enquanto aqui dentro, o caminho é inverso, o
mar devasta os meus rios.
Sandra Freitas
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