É no amachucar dos dias que lambo o futuro com ganas de
viver. É no respirar cinzento que abraço o sorriso, entornando-o sobre mim.
Porque a viagem começou, porque as pedras desfizeram-se, porque o céu já não
chora, traduzo o tempo na distância da memória. Cruzo os passos com a música
ancorando cada nota no meu peito, e danço. Porque este sonho é meu na madrugada
que me foge entre os dedos, escrevo-o. Das palavras desenho o futuro que anseio
deixando escorrer as letras sobre o sol, queimando-as de prazer. Sopro as
papoilas e faço um rio de sangue que ainda dói, que ainda fere, e choro. Vou
esquecer os caminhos que magoam, construir pontes para olhares de prata,
sorrindo por cada manhã que encontrar. Talvez por saber perder encontro agora a
maré cheia de mim. Talvez por saber entender, reservo agora a ultima frase para
me encontrar. E deixo-me espalhada em tudo que me implora, e deixo-me inquieta
em tudo que me anseia e volto a ser quem sou. Porque do nada venho, porque
renasci em peito quente, amanha serei muito mais que eu, porque tudo o que me
rodeia é vida.
Vanda Paz
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