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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Orvalhos em fios de ouro



A madrugada
Deita-se na sombra do dia,
Os olhos doridos
Na ampla noite sem fim…
Flamejam borrões vermelhos
No firmamento
Manchinhas frescas
A crepitar…

Turbilhões de vultos
E escombros
Estremecidos nos circuitos da vida…
Gaivotas que choram
Gritam…
Imponderáveis fluidos,
Esboços em movimento
Esmalte caído
Em cristais da lua…

O mar reclama
A voz estrondosa dirigida do céu
…Crispadas ondas
Afagam a praia
Em lampejos contínuos,
Vincos de sal
Tatuados na esfinge
Escura das duras rochas
Semeadas no colo das águas,
Feroz nas garras oceânicas…

Os olhos nada vêem
Olham de fora para dentro
De dentro para fora,
Nuas pupilas cansadas
De nada no tudo
Que se adivinha,
Incerto futuro…
Dormente e temido…

Grilhões em suprema
Suspensão
Farrapos rasgados
Nas labaredas do horizonte,
Os joelhos encontram a poeira
Em duas gotas de chuva,
Abrem as mãos
Entre o nevoeiro infinito…

Orvalhos em fios de ouro
Caem da eternidade…

Ana Coelho

1 comentário:

Ana Coelho disse...

Meu amigo, sabes o quanto este poema é especial para mim...obrigada por o teres aqui com mais um gesto de carinho na amizade que cresce a cada dia.

Beijos