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sábado, 12 de dezembro de 2009

Sombra da noite


Este tempo em que o meu olhar seguiu este ser que vagueava, só, numa madrugada em Swan Hills, onde a temperatura que se fazia sentir rodava os 40graus negativos, demorou em tempo real cerca de meia hora. Tempo que levou esta figura a passar a rua até desaparecer, do meu horizonte. Permaneci, quieta a observá-lo, porque temia sinceramente que ele caisse e se deixasse ficar sobre a neve fria. Bastariam uns dez minutos para que o frio o impedisse de levar de novo e continuasse a fazer parte do Mundo dos vivos. Desejo sinceramente que tenha conseguido chegar ao seu destino!

Sombra da noite I

Na minha sombra me deixei ir
O meu olhar á noite cedeu
Pisquei os olhos e pude sentir
Que o silêncio da noite não era só meu

Vi outra sombra ao fundo da rua
Cambaleando sem conseguir esconder
Que viver inebriado foi escolha sua
Para neste Mundo conseguir viver

Os seus passos perdidos na noite fria
Marca na estrada vazia a sua alma em pedaços
Num desenho estranho sem alegria
Em tão irregulares traços

Quem teria sido na noite a sua companheira
Com quem deitaria o seu sonho
Desilusão, companheira traiçoeira
Que caminhar inseguro, que traço tristonho

Olhei o tempo que levava
A estranha sombra a rua a percorrer
Reparei que o tempo não lhe interessava
Vagaroso, a própria sombra parecia esquecer!



Sombra da noite II

Apertei meu rosto na vidraça
Alonguei com força o meu olhar
E vi que aquela sombra baça
Com alguém vinha a falar

O rosto escondido na madrugada escura
O olhar perdido sem saber para onde olhar
E a garrafa que na mão trazia segura
Com ela falava, ora num queixume ora a gritar

Inventa um caminho, hesita sem saber
Que a ilusão que comprou
É o querer sentir que nada tem a perder
Verdade que para si inventou

Sombra que na rua procura
Esconder-se antes do amanhecer
Numa sombria toca, onde se sente segura
Para não mais que uma sombra ter de ser

Quem és sombra ao fundo da rua
Vulto sombrio de indefinidos traços
Que te alimentas de raiva crua
Que te perdes em cambaleantes passos!



Sombra da noite III

Que estranho não consigo esquecer
Dessa hora que me acheguei á janela
Apenas a rua queria ver
Mas vi mais, vi a sombra que se mexia nela

Que estranha sombra eu pude olhar
Sombra que enchia aquela rua
Num hesitante e incerto caminhar
Numa postura de mais niguém, apenas sua

Desejei caminhar lado a lado
Com essa sombra conversar
Mas sua companhia já tinha dado
Ao cálice da vida que o ajudava a cambalear

E da minha silenciosa janela
Apenas fiquei a ver
A sombra que se afastava dela
Para na sombra se perder!

Fernanda Rocha Mesquita

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