Jaz o poeta pelo difamar da sua sujeição. Tanta palavra rude
rodeou o seu extenso caminhar, sem que pudesse apresentar uma simples desculpa
ou uma singela explicação. As palavras que foram suas começaram a não ter a
força de um passado recente e outro mais longínquo. Quase se sentiu amordaçado
por uma censura que lhe espetou a estocada final. Ele que definiu aquele
movimento depauperante e ardiloso, como armadilha da ultimação, e jamais buscou
outras palavras para a demanda. Deixou de se alimentar dos seus poemas e de
beber na fonte de seus versos. Deixou passar o tempo sem rejeitar tal desígnio,
mal sentindo o ultraje do fervor que o foi aprisionando em todos os sentidos.
Começou por cambalear e depois perdeu a audição. Sua visão começou por se
turvar e o raquitismo de seu físico emoldurou o espaço de todos os comentários.
Nunca mais se leu e ouviu uma palavra sua e apenas restaram as que tinha
inventado até ao início desta contenda, mas omitidas pela vil opressão. Nunca
mais se sentiu o mesmo, até ao fim que foi o seu. Acabou um dia ali, em abrupta
queda, sem que ninguém por tal desse. Findou-se. Todavia, alguém comentou,
ainda: - Há um poeta esquecido na morgue da incompreensão.
António MR Martins
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