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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O vestido negro


O calor inquieto obrigou-a a recolher-se na sombra de um quarto com sabor a mel. Despiu-se das roupas deixando a vida escorregar com elas. O calor era um diabo que atormentava. Escorreu-lhe a água no corpo limpando o resto do dia e vestiu o vestido negro, aquele vestido que tinha comprado não sabe onde pensando em ninguém. Olhou-se ao espelho e viu com agrado os seios descansarem naquele espaço minúsculo que os amparava. Era um vestido negro de algodão que lhe massajava a pele, sentia-se bem, sentia-se mulher. Amarrou o cabelo e sentou-se a apanhar letras de um livro. Feliz, sentia o momento a arrepiar-lhe a alma com leveza. Mesmo que o calor não o trouxesse era um momento de sorriso nos lábios, mas a porta abriu-se, como a ansiedade escondida no peito. Os olhos alegres brincaram com os dela mas foi no vestido que se prenderam. Era um vestido com formas suaves de corpo robusto, era a tentação do beijo naquele corpo vestido de um negro que realçava o calor que era diabo também no corpo dele. As mãos transformaram-se em brisas suaves que lhe acariciavam o corpo enquanto os lábios eram chamas intensas que se inflamavam em cada toque. Aninharam-se no prazer gozando a frescura daquele vestido negro enquanto lá fora o calor era um diabo que morria com o dia. A noite nasceu de negro com o céu mesclado de carne rubra escondida nas formas de um vestido.

Vanda Paz

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