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sábado, 7 de agosto de 2010

Descoberta



Respirou fundo.
Chorou.
E foi um pranto tão sentido que era como um êxtase; ao mesmo tempo que doía a nova constatação lhe percorria pela espinha um frio deixando o sentimento de tornar-se especial a partir dessa nova descoberta.
A noite já retornava e uma lua que levitava no céu, iluminava clareando os sentidos e trazendo esperança. Uma esperança esperada mas sofrida...
Sentia-se envergonhada... não por ter cometido tantos erros durante toda sua existência, nem por ter olhado pelo caleidoscópio na tentativa de melhorar o mundo mas por ter fugido sempre do negro não percebendo que a fusão de todas as cores resulta na cor preta. Isso ela não podia ter ignorado. Era por isso essa dor imensa tardiamente sentida. Não poderia passar por cima, queimar etapas e ficar ilesa no momento do insight.
Sentiu-se tremendamente egoísta...por muitas vezes tivera a chance de compartilhar da visão do caleidoscópio e não o fez porque era mais cômodo habitar seu ilusório e utópico mundinho. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide.
Tivera, por alguns minutos, raiva de si mesma...decepção consigo por não poder/saber ausentar-se e deixar as asas guardadas por um tempo. Raiva de não conseguir ficar com os outros no chão. Não precisava ser por muito tempo, ela poderia ampliar seu campo de visão e retornaria ao seu mundo somente para renovar suas forças. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide resolveu sair e conhecer outras coisas fora do seu mundo...Ele descobriu o valor de tudo que possuia graças a sua ousadia e sua ausência temporária. E principalmente descobriu seu valor quando reencontra sua rosa.
Respirou fundo.
Não chorou mais.
O primeiro passo, o da consciência da estupidez do seu ser finalmente havia emergido.
Respirou fundo.
Permitiu-se chorar.
Perdoou-se.
Deu seu último suspiro antes de caminhar rumo ao tempo perdido.
E então como que trilhasse ora por sob estrelas, ora por sob a grama verde seguiu em busca da paz e da luz.
Ora respirando fundo.
Ora chorando.
Mas dessa vez seu pranto causava-lhe um êxtase diferente, era assim como nascer de novo a cada dia e a cada nova descoberta.
Era o começo.

Luciana Silveira

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