domingo, 29 de novembro de 2009
Florbela Espanca
Flor de sonho
Flor do Sonho, alvíssima, divina,
miraculosamente abriu em mim,
como se uma magnólia de cetim
fosse florir num muro todo em ruína.
Pende em meu seio a haste branda e fina
e não posso entender como é que, enfim,
essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
que tem que sejam tristes os meus olhos
se eles são tristes pelo amor de ti?!...
Desde que em mim nasceste em noite calma,
voou ao longe a asa da minha’alma
e nunca, nunca mais eu me entendi.
Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
são como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
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