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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Hoje


Hoje acordei com os dedos a tocar a ponta do céu, com uma estrela em cada mão e os pés enraizados nesta terra que me consome. O meu corpo, vela de um barco à deriva, dobra-se ao vento gemendo liberdade.
Hoje acordei embriagada de sonhos por cumprir, tomei-os um a um em taça de cristal. A noite foi longa, a madrugada gelou-me os sentidos e eu deixei-me entregue à aurora.
Hoje acordei com os desejos castrados pela maldade de um tempo que não pára. Apanhei as palavras do chão ensanguentadas, mas vivas como o sol que trago no peito.
Toco-me baixinho e oiço música crescente num ritmo certo e avassalador.
Hoje derramo-me no mar e diluo-me deixando-me ir ao sabor da maré das tuas mãos. Só assim poderás encontrar a essência, só assim entenderás o aroma que se liberta do sorriso pintado de vermelho. É quando tocas na transparência de um corpo que lhe sentes a alma. Poderosas só as palavras.

Dedilha devagar o tempo, só assim me vais encontrar…

Vanda Paz

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