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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Reflectindo sobre o ser poeta ou versejador


Quando leio um poeta, que se serve de expressões que nada significam, ou que compõe de sorte que o não entendem, assento que não quis ser ententido/a
, e em tal caso, procuro fazer-lhe a vontade, e não o leio. Faço o mesmo com os labirintos e enigmas, os quais nunca me cansei
a decifrar. Quem os faz, que se divirtam com isso. Se todos assentassem neste principio, ver- se -ia como mudava a poesia. Porque seriam
obrigados os poetas a lerem somente as suas obras, e assim, ou se desenganariam eles mesmo com o tempo, ou enganariam os outros e
poder-se-iam achar poetas de algum merecimento, principalmente se chegassem a conhecer quais são os requisitos necessários para a poesia.

A razão destes inconvenientes é porque se persuadem completamente que, para ser poeta, basta saber a medida de quatro versos e saber
engenhar conceitos esquisitos. Quem se funda nisto não pode saber nada. São necessárias muitas outras coisas. É necessário doutrina e entender bem as matérias que se tratam. É necessário a filosofia e saber conhecer bem as acções dos homens, as suas paixões, o seu carácter, para as saber imitar, excitar e adormecer. Aqui entra a retórica, que supôe todas aquelas coisas, entra um pouco de história para não dizer parvoíces e entra a história da fábula, etc. Tudo isto se mostra manifestamente nos melhores poemas que temos desde a Antiguidade até à actualidade. E digo de poetas modernos e insignes. Onde, quem não tem estes fundamentos é versejador, ( como eu) mas não poeta.

Maria Valadas

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