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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quando me nasce a noite na boca



(Foto de Gila -
http://olhares.aeiou.pt/vinha_foto3036320.html)




Quando me nasce a noite na boca
escolho um vinho maduro
para que me escorra na garganta o tempo
enquanto salivo luares alucinados.
O corpo tomba na foz do dia
o olhar acomoda-se naquela mancha na parede
e mastigo uma vindima com sabor a silêncio.
Oiço os cânticos daquele ano
cheiro o suor das vindimadoras e o melaço das uvas
prende-se-me aos lábios a fruta madura
em gotas grossas de vermelho paixão em hora de colheita.

Quando me nasce a noite na boca
descanso o pensamento
nas colinas argilosas viradas ao sol
que desavinham no meu peito mais uma vez.
Viro-me na madrugada que colho
no sentimento mais ébrio do momento
e adormeço na madeira de cada videira
que me alimenta na seiva da vida.

Quando me nasce a noite na boca
descanso com o granjeio de mais um ano
enquanto o prateado do luar é lençol
que protege a vinha neste cio de mão humana.

Vanda Paz

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