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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A minha dor


A minha Dor é um convento ideal
cheio de claustros, sombras, arcarias,
aonde a pedra em convulsões sombrias
tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonia
ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
ao bater horas, no correr dos dias...
A minha Dor é um convento. Há lírios
dum roxo macerado de martírios,
tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
noites e dias rezo e grito e choro,
e ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...

Florbela Espanca

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