Hoje saí dos lábios da chuva e fiz-me rosa desfolhada ao
vento
Prendeu-me a alma o cheiro da terra molhada que me humedeceu
o olhar
É no recanto desta tarde cinzenta que me elevo aos sonhos
Carregando comigo esta vontade de me ausentar de tudo
Da boca nascem notas quase surdas que encantam o silêncio
Enquanto os braços aconchegam as horas que correm para a
noite
O pensamento regressa do livro no desfolhar de cada página
E pára na sombra do domingo que se agiganta para uma nova
semana
Uma tarde calma em contraste ao agreste da vida lá fora
E ao carrego da responsabilidade de viver dentro de nós
Da janela vejo o rio espalhar-se no mar e fazer-lhe tranças
brancas
Que crescem e se desmancham em cada onda
A chuva vai beijando devagar o vento espalhando a serenidade
nas marés.
Vanda Paz
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