Eu nasci com fome de vida. Fórceps. Queria sugar até a última gota da
minha mãe. Tinha olhos azuis da cor do céu, grandes vitrais da minha pequena essência. Depois de um tempo fui menina de olhos verdes, profundos e intensos, de pura contemplação e absorção.
Agora meus olhos são cor de mel, e têm essa mania de avidez, devoram tudo que vêem, que lêem. São famintos o tempo todo. Não se saciam de luz, de cores, de vida. Não são olhos de ressaca, são de tempestade, de vulcão.
Mastigam e engolem. O estômago dos meus olhos é a alma. E é nela que tudo é digerido. Metabolismo intenso, porém lento. Não por causa do alimento, mas da complexidade do órgão. Foi assim quando pus meus olhos em você. E quanto mais te vejo, mais meus olhos te procuram, mais te querem famintos, mais te levam pra minha alma que digere a sua imagem em minúcias até que toda a sua substância se torne comigo um único ser. E eu possa te ser, me ser, ser nós.
Sandra Freitas
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
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