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terça-feira, 2 de março de 2010

Desfolhando-me


Desfolho-me
Perante você que lê
Com cuidado, atenciosamente,
Cada linha sem limite.

Se dependesse da reputação
A minha vida não teria emoção.
Minha história não teria sentido,
Tudo seria uma pura ilusão.

E te pergunto,
Quem nunca falhou?
Você nunca pecou?
E jamais deslizou?

Desfolhando-me
Vejo os meus erros,
As mágoas, a traição...
Uma silenciosa correção.

Apedrejada, julgada
Caluniada, difamada.
Fui desvalorizada,
E fui menos amada.

Onde está o perdão?
Já que todos se dizem cristão?
Cadê a minha absolvição?

Percorro o meu caminho,
Ao qual tropeço no passado.
Descubro que alguém me julga
Sem ter um dia me conhecido.

Atravessando este muro de preconceito,
Esbarro-me na injustiça e no desrespeito.
Quanta hipocrisia, quanta falsidade.
E ainda tem a coragem de declarar
“Vivo a plenitude da felicidade”.

Quantos enganos e quantas mentiras.
Acabo por fazer destes versos,
Um desfolhar de desabafos.

Desfolho-me perante você,
Lendo-me atentamente.
Quanta confusão,
Quanta dor no coração.
Tudo por causa da traição.

Amor que não deu certo.
Um amor tão perfeito...
Tudo ficou por um momento
Em minha alma, na fascinação,
Na minha eterna recordação.

Desfolha-me! Descubra-me!
Vasculhe o meu passado.
Mas, tenha cuidado!
Para não acabar se machucando.

Graciele Gessner

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