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sábado, 7 de março de 2009

Assassinato


Horas!
Em ritmos repetidos, impiedosos
medem o compasso do tempo
como se o tempo tivesse tamanho!
E o tempo mede a vida
como se a vida se pudesse medir!

Horas! Medidas loucas!
Desregulam-me as funções vitais da alma.
Quero matá-las! Matar as horas!
Sempre que a noite se apeia
chamam pelo meu corpo
gritam se as não oiço
e levam com elas os sonhos diurnos.
Adormeço cansada de as repudiar.
E o sonho volta a acontecer!
Mas inda a luz da manhã se não tem levantado
e já as horas me gritam outra vez.
Acordam-me dos sonhos desenhados
em amor sem rédeas.
E assim não tenho tempo para sonhar.
E se insisto no sonho
logo as horas vêm, como brocas
perfurar o que sonhei no peito.
Canso-me!
E tento matar as horas
obrigando-as a sair do relógio.
Sufocam. Ficam roxas.
Como me rio delas!
Emano faíscas do olhar enraivecido
e vejo-as gemer!
Largo-as em águas agitadas, envenenadas.
Empalidecem!...
É então que rio muito sofregamente.
Afoguei-as num acto de prazer!
Já não há horas!
Já posso ser vento a sonhar o teu rosto!
De dia e de noite!
Já posso escrever o meu “poema”
sem ter o chicote das horas a bater.

Matei as horas, sim,
para que elas não me matassem a mim.

Marta Vasil

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