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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Há nove anos no inferno









Há nove anos no inferno
Texto ● Hernâni Von Doellinger
hernani.doellinger@24horas.com.pt
É um calvário sem fim.





Filomena Teixeira, a mãe de Rui Pedro, o menino que desapareceu de Lousada há nove anos, está mais uma vez internada no Hospital Magalhães Lemos, no Porto, para isolar-se do mundo e receber apoio psiquiátrico. Na semana passada foi a Lisboa
saber novidades sobre o processo e regressou a casa completamente transtornada.
Teve mais uma recaída. “Acontece-lhe de vez em quando. Há qualquer coisa que ela não aceita bem e vai-se logo abaixo. Aí, são os próprios médicos do hospital que recomendam uns dias de internamento, para que ela não fale com ninguém sobre este assunto que tanto a atormenta”, explicou ontem ao 24horas Carlos Teixeira, irmão de Filomena e tio-padrinho de Rui Pedro.
As últimas notícias vindas a público sobre o caso do seu filho também ajudaram a abalar os frágeis nervos de Filomena Teixeira, que ficou sobretudo incomodada com a revelação de factos “que estavam em segredo de justiça”, conta ainda o irmão.
Pequena discussão em família ao que o 24horas apurou, Filomena deslocou-se a Lisboa, na terça-feira da semana passada, para encontrar-se com o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes, e consultar o processo judicial relativo ao desaparecimento do filho.
E já não veio a mesma, quando voltou a Lousada.
“Sempre que existem notícias que não lhe agradam, ela volta a recair. Desta vez, chegou a casa, teve uma pequena discussão com a família, piorou e acabou por ser internada na passada sexta-feira”, revela Carlos Teixeira. A alta hospitalar deverá acontecer hoje ou amanhã.
Contactado pelo 24horas, o advogado Ricardo Sá Fernandes refugiou-se no respeito pelo segredo de justiça para confirmar apenas que reúne “regularmente” com Filomena Teixeira, prometendo novidades sobre o caso de Rui Pedro “lá para o fim do ano, princípio do próximo”.
Nas mãos de vários especialistas há nove anos que Filomena vive este inferno, a terrível angústia de velar um filho que ela acredita que não morreu. Para se aguentar, há quatro anos que é seguida no Magalhães Lemos, um hospital psiquiátrico, onde amiúde é internada, cada vez que sobrevem uma crise quase não passa um dia sem consultas psicológicas ou psiquiátricas e só funciona continuamente medicada à base de calmantes. Frequenta também consultas de neurologia e nutricionismo, devido à tendência para emagrecer demasiado por causa dos nervos, e ocupa-se ainda em terapias de entretenimento, com o objectivo se distrair e esquecer o drama da sua vida.
Em casa, todos estão ao lado de Filomena, sobretudo nos piores momentos. “Tem uma filha,
que lhe dá todo o carinho. Tem o marido, que a apoia. Tem ainda a mãe, que a ajuda, e
tem-me a mim. Todos tentamos acalmá-la quando ela fica mais agitada e protegê-la de situações mais delicadas”, diz o irmão, Carlos Teixeira. ■
Filomena Teixeira está de novo no hospital psiquiátrico.
Tem sido sempre assim desde que o filho desapareceu:
medicamentos, consultas, crises, internamentos... e uma dor imensa que não passa A tensão
a que se viu sujeita ao longo dos últimos dias levou a mãe do Rui Pedro a ser internada no hospital
MÃE DE RUI PEDRO VOLTOU A SER INTERNADA NO MAGALHÃES LEMOS
factos
20 ANOS. Rui Pedro desapareceu de Lousada, perto de casa, na tarde de 4 de Março de 1998.
Tinha 11 anos de idade. Se for vivo, como acredita a mãe, terá hoje 20.
QUARTO. Filomena mantém o quarto do filho tal e qual ele o deixou há nove anos.
Televisão, consola de jogos, poster da actriz Sandra Bullock, tudo está no mesmo lugar.
Uma filha para criar Filomena está dependente dos medicamentos que a acalmam, mas o seu irmão garante que ela não é nenhuma alienada. “Pelo contrário.
Ela está sempre atenta a tudo o que é escrito e dito sobre o caso do Rui Pedro, fazendo o seu
próprio arquivo, avançando com contactos, nacionais e internacionais, mas sobretudo dá toda a atenção à filha de 18 anos que entrou este ano na Universidade”, diz Carlos Teixeira ao 24horas. Sobra, porém, pouco tempo e disposição para o retorno à vida social de antes do desaparecimento do filho. Ainda assim, Carlos afirma que Filomena “continua a ter uma ou outra pessoa amiga com quem gosta de conversar”.
Manter a esperança. O caso da pequena Maddie que desapareceu há meses no Algarve e as últimas notícias da comunicação social sobre os casos do Rui Pedro e do Rui Pereira puseram mais pressão sobre Filomena Teixeira.
Como é que se sobrevive a semelhante drama? Filomena acredita que “não há uma fórmula igual para todas as pessoas” que passam por situações semelhantes.
Para ela, “manter a esperança é uma das fórmulas mais eficazes”, conforme declarou numa recente entrevista concedida ao “Jornal do Centro de Saúde”. “No dia em que perder a esperança, deixo de viver”, acrescentou a mãe de Rui Pedro.

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