Outros Blogs do meu grupo:


quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Estado da mente que compreende


A consciência é produto do tempo; o pensamento está alicerçado no tempo, e o que o pensamento produz está sempre na sujeição do tempo. Assim, o homem que deseja livrar-se do sofrimento, precisará livrar-se do "conhecido" - o que significa que precisará compreender toda essa estrutura da consciência. E pode-se compreendê-la por meio da análise, que é também um "processo" de- pensamento? Que significa "compreender uma coisa"? Qual o estado da mente que compreende? Estou falando sobre compreender, e não sobre aquilo que se compreende. Entendeis o que quero dizer? Estou investigando o estado da mente que diz "compreendo". A compreensão é resultado de pensamento e dedução? Examinais uma coisa crítica, razoável, sã e logicamente e dizeis depois "compreendo-a"? Ou a compreensão é coisa de todo diferente? Outro dia, quando aquele senhor perguntou "Qual a verdadeira função do pensamento?" - deveis lembrar-vos de que falamos sobre a "resposta" da mente a "desafio". Quando a pergunta nos é familiar, a resposta é imediata. Quando um pouco mais complicada, ou obscura, a resposta leva tempo, pois nesta demora estais a pensar, a rebuscar na memória, para depois responderdes, tal como os computadores, por associação. Uma pergunta mais complicada requer intervalo maior ainda. Ora, estas três "respostas", que naquele dia chamamos (a), (b) e (c), constituem, todas, partes do "processo" do pensamento, e se acham no campo do "conhecido". Dentro desse campo, pode-se produzir, pode-se inventar, pode-se pintar quadros, fazer as coisas mais extraordinárias, até mesmo ir à Lua; nada disso, porém, é criação. Essa perene busca de grandes feitos e de expressão pessoal é de todo em todo pueril, pelo menos para mim.
Ora, estar livre de tudo isso é estar livre do "conhecido"; é o estado da mente que diz: "Não sei" - e não está procurando resposta. Essa mente se acha, toda ela, num estado, de "não-procura", de "não-expectativa"; e só nesse estado pode-se dizer "compreendo". É o único estado em que a mente é livre, e desse estado podeis olhar as coisas conhecidas - mas não vice-versa. Do conhecido não tendes possibilidade de ver o desconhecido; mas, uma vez compreendido o estado da mente que é livre, ou seja a mente que diz "não sei" e permanece "não sabendo" e é, por conseguinte, "inocente" - então, desse estado, podeis "funcionar", ser cidadão, homem casado, etc. Então, o que fazeis tem cabimento, tem significação na vida. Mas, nós permanecemos no campo do conhecido, com todos os seus conflitos, lutas, disputas, agonias, e, desse campo, queremos encontrar o "desconhecido". Por conseguinte, não estamos verdadeiramente em busca da liberdade. O que queremos é a continuação, o prolongamento da mesma velharia: do conhecido."
Jiddu Krishnamurti

Sem comentários: