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domingo, 18 de janeiro de 2009

Alhos e bugalhos


Por vezes não consigo entender. Falam-me de alhos e quando vejo escreveram bugalhos. Não está certo agredir a pouca capacidade mental que ainda me resta. O meu instinto repugna as pessoas de duas caras, de duas bocas e de quatro olhos, que saltam e vagueiam pela miséria da vida de outros, pobres coitados. O pouco pão que lhes resta na mesa, a pouca água que lhes corre na torneira, a pouca dignidade que ainda lhes resta é quantificada, humilhada e violada por aqueles que se lavam de perfume e se lambuzam de pratos adornados de carnes, novas, recheadas de palavras.
- Venham, venham, venham comprar. É linda a minha obra. Venham, não custa quase nada.
Diz o lambuzado com a garota sorridente debaixo do braço.
Os outros passam de olhar cerrado no chão e assobiam, apenas olham para as pernas tenras com ganas de as comerem, não sei se por fome ou pela pedrada que lhes dá só de pensar no assunto.
- A vida está má, se está… encha a barriga de letras, não de massa, de letras daquelas que vêm nos livros, não tem? Ofereço-lhe umas frases fresquinhas, para acompanhar o almoço (assim, enquanto lê esquece que só tem arroz), se gostar vendo-lhe uns textos, assim, também já dá para o jantar. Se comprar a colecção toda ofereço-lhe um computador. Queria antes uma vaca? Para que quer a vaca? (que nojo). Para comer? Oh! Homem esqueça o comer, não sabe que agora está na moda fazer dieta? É verdade, a minha mulher gasta-me o dinheiro todo em papas e comprimidos para não comer, está na moda.
Junta-se outra bonitona, de olhar matador, com força para arrastar multidões. Espalha sorrisos e frases de encantar, tudo é azul ao seu redor, os seus olhos brilham de entusiasmo a ver os pobres coitados completamente rendidos àquele pedaço de mulher.
- Afinal é verdade, existem mulheres assim, coitada da minha Maria…
Os outros, os fracos, seguem-na na ilusão da verdade que ela lhes conta, sobre os alhos… Deixam o pouco que têm, deixam a camisa, os olhos… a dignidade… Mas sorridentes trazem uma folha que descreve todos os bugalhos que adquiriram, para nada.

Vanda Paz

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